Pesquisa utiliza terra diatomácea no preparo de carrapaticida no combate à febre maculosa

A plataforma inorgânica apresenta potencial para controle de outras pragas humanas e de animais

Zoonose de grande relevância para a saúde pública, a febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença endêmica de notificação compulsória no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde dentro de 24 horas. O principal vetor da doença é o carrapato Amblyomma sculptum (carrapato-estrela), amplamente distribuído no território brasileiro, que possui como hospedeiros preferenciais as capivaras, antas e equídeos e que podem parasitar humanos.

A FMB é causada pela bactéria Rickettisia rickettsii e consiste em uma infecção aguda que apresenta sinais pouco específicos no início (febre, calafrio, dor de cabeça, dor muscular intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos) e evolui para a formação de erupções cutâneas, manchas escuras, gangrena, aumento do baço e do fígado, necrose nas pontas dos dedos e convulsões. Em casos mais graves, manifestações sistêmicas importantes como miocardite, insuficiência respiratória e renal são observadas e estão relacionados à elevada letalidade.

As capivaras e os cavalos assumem grande importância na cadeia epidemiológica da doença, pois são os principais reservatórios dos carrapatos transmissores da febre maculosa.

Nas áreas antropizadas, os animais mantidos em pastos sujos, com vegetação alta, ou em matas ciliares, encontram um ambiente propício para a infestação pelo carrapato.

Fazer o controle ambiental do vetor constitui a principal forma de intervenção, mas o uso de inseticidas e carrapaticidas no ambiente normalmente causa impacto na fauna de invertebrados e na contaminação fluvial. Produtos naturais têm sido investigados para fazer o controle ambiental de vetores, tendo em vista sua baixa toxicidade para mamíferos e o alto grau de biodegradabilidade.

Como funciona a pesquisa

Na busca por novas formulações de baixo custo, ambientalmente seguras e efetivas contra larvas e ninfas do carrapato-estrela, o pesquisador e professor associado na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ricardo Neves Marreto, teve um projeto de pesquisa selecionado na 7ª edição do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS) e vai receber fomento de R$ 115.509,00 para desenvolver a pesquisa nos próximos dois anos.

Marreto vai trabalhar em parceria com a professora Stephânia Taveira, que coordena o Laboratório de Nanossistemas e Dispositivos de Liberação de Fármacos (NanoSYS-UFG).

O projeto contará com a participação do grupo de pesquisadores do Laboratório de Biologia, Ecologia e Controle de Carrapatos da UFG (Labec – EVZ/IPTESP/UFG), coordenado pelo professor Caio Márcio de Oliveira Monteiro, assim como do Laboratório de Pesquisa em Toxicologia Ambiental (EnvTox – FF/UFG), coordenado pela professora Gisele Augusto Rodrigues.

Terra Diatomácea
O projeto, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), tem como proposta otimizar as propriedades microestruturais da terra diatomácea (TD) e empregá-la como insumo no preparo de carrapaticidas que possam ser aplicados com segurança e efetividade no meio ambiente e com grande potencial para evitar a ocorrência do fenômeno de resistência, relacionado ao uso de carrapaticidas sintéticos. Os produtos serão constituídos por materiais inorgânicos, associados ou não a produtos naturais.

Nas áreas antropizadas, em que a população de capivaras é significativa, a febre maculosa brasileira representa uma ameaça importante à saúde humana, existindo relatos de taxa de letalidade de 85%, explica Marreto.

“Nesses locais, o controle ambiental é a principal forma de intervenção. Por isso, é muito importante tornar disponíveis produtos que sejam não apenas efetivos, mas que não causem danos ao meio ambiente. Além disso, o desenvolvimento da plataforma inorgânica que propusemos pode contribuir para o preparo de diferentes produtos usados no combate a outros artrópodes que causam diversos problemas à saúde humana, o que pode estender substancialmente seu impacto sanitário”, ressalta o professor.

Como o mecanismo de ação da terra diatomácea é físico, o professor revela que existe grande potencial para o uso destes produtos no controle de outras pragas de interesse para a saúde humana, animal, assim como no agronegócio.

Resultados

Ricardo Marreto explica que a terra diatomácea é uma coleção de esqueletos fossilizados de algas que atua pela remoção dos lipídeos presentes na cutícula dos insetos, causando desidratação e morte.

Segundo ele, a terra diatomácea é um material abundante na natureza, encontrado em regiões de água doce e salgada e que apresenta baixo custo, e que, consequentemente, produtos baseados na terra diatomácea devem ser economicamente acessíveis.

Porém, o pesquisador explica que a terra diatomácea apresenta elevada variabilidade e, dessa forma, é necessário processá-la para otimizar a ação do produto. “O controle das propriedades da terra diatomácea pela aplicação de estratégia de formulação e de processo é um dos pontos de maior importância no projeto”, destaca.

A TD é um produto natural que apresenta grande variabilidade em suas propriedades microestruturais, exigindo padronização para garantir seu emprego efetivo, seguro e reprodutível, explica o professor.

“Em nosso projeto, técnicas comumente empregadas na indústria farmacêutica serão utilizadas para padronizar a TD e otimizar sua atividade contra o carrapato-estrela. Em seguida, formulações contendo TD, associadas ou não a produtos naturais de reconhecida atividade carrapaticida, serão desenvolvidas e avaliadas quanto a sua efetividade e segurança ambiental, utilizando ensaios ecotoxicológicos”.

Os resultados possibilitarão o desenvolvimento de plataforma para o controle ambiental de diferentes vetores de doenças tropicais.

Fonte: Secom/ Universidade Federal de Goiás (UFG).