Rodovias em péssimo estado de conservação geram grandes prejuízos financeiros ao Brasil. A informação não é novidade, mas agora esses gastos indesejáveis foram contabilizados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), que avaliou 100% das vias federais e estaduais em 2023.
O estudo apontou que apenas 34% das vias foram classificadas como ótimas ou boas, enquanto 66% foram consideradas regulares, ruins ou péssimas. Além disso, o número de pontos críticos aumentou em 5,2%, passando de 2.518 em 2022 para 2.648 em 2023.
De acordo com a pesquisa, o melhor estado em relação à qualidade das rodovias federais foi o Rio Grande do Sul, com 91,5% de sua extensão classificada como ótima ou boa. O pior estado foi o Amapá, com apenas 2,6% de sua extensão classificada como ótima ou boa. O estado de Goiás encontra-se com 51,9% de sua extensão classificada como ótima ou boa. A média nacional foi de 32,5%.
Miguel Angelo Pricinote, mestre em transportes e fundador do Mova-se Fórum Nacional de Mobilidade explica que entre os problemas estão quedas de barreiras, muitos buracos, falta de acostamento e pontes caídas.
“A situação é antiga, porque o Brasil nunca investiu os recursos adequados nas rodovias. Como aqui no País não se investe em ferrovias para o transporte interestadual, o Brasil precisa pagar uma conta muito elevada para receber produtos, até os mais essenciais. Para se ter uma ideia, o transporte rodoviário é responsável por cerca de 60% da movimentação de cargas e passageiros”, afirma Pricinote.
As rodovias de má qualidade aumentam em 33% os custos operacionais, gerando impactos negativos para toda a sociedade. Entre os prejuízos, estão a demora em entregar as matérias-primas e os produtos, o aumento do preço final do produto, o gasto com manutenção dos caminhões, o consumo excessivo de combustível e as emissões de CO2.
Segundo a pesquisa da CNT, a má conservação das rodovias gerou um consumo desnecessário de mais de R$ 1,7 bilhão de litros de óleo diesel, emitindo toneladas de gás carbônico na atmosfera e impondo um gasto adicional de R$ 4,89 bilhões aos motoristas e empresas. Além disso, só em 2022 foram registrados 64.515 acidentes nas rodovias federais, o que custou ao país R$ 12,74 bilhões em custos previdenciários, atendimento à saúde, perda de produção e danos materiais.
A pesquisa da CNT estima que o custo total para eliminar os pontos críticos é de R$ 5,6 bilhões, sendo R$ 3,1 bilhões para as rodovias públicas e R$ 2,5 bilhões para as rodovias concedidas. Esses valores são muito inferiores aos prejuízos causados pela má qualidade das rodovias, e representam um investimento necessário para melhorar a segurança e a fluidez do tráfego.
Já as rodovias concedidas à iniciativa privada têm uma qualidade superior às rodovias públicas em todos os aspectos avaliados pelo estudo da CNT, e receberam mais investimentos por quilômetro do que as rodovias federais.
Ainda, segundo a pesquisa, 81,9% das rodovias concedidas foram classificadas como ótimas ou boas no estado geral, enquanto apenas 34,2% das rodovias públicas federais receberam essa avaliação. No pavimento, a diferença foi de 79,1% para as rodovias privadas e 42,2% para as públicas. Na sinalização, os números foram de 91,1% e 47,3%, respectivamente. Na geometria da via, a vantagem das rodovias concedidas foi de 41,2% contra 20,4% das rodovias federais.
Em relação aos investimentos, as rodovias concedidas receberam, em média, R$ 381,04 mil por quilômetro, enquanto as rodovias federais receberam R$ 162,92 mil por quilômetro, no período de 2017 a 2023. Em 2022, o investimento privado por quilômetro foi de cerca de R$ 411 mil, contra R$ 115 mil do investimento público federal.