Montadora chinesa Great Wall confirma investimento de R$ 10 bi no Brasil

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(Foto: Simon Plestenjak/Folhaprees)

A montadora chinesa Great Wall Motors divulgou na última semana seus planos para o Brasil. A empresa vai montar carros na cidade de Iracemápolis (interior de São Paulo), na unidade que pertenceu à Mercedes-Benz. A empresa estima um investimento de R$ 10 bilhões no longo prazo, dividido em ciclos.

A primeira etapa começou em 2021 e vai até 2025, com um valor entre R$ 4 bilhões e R$ 4,5 bilhões. Todos os veículos produzidos serão híbridos ou 100% elétricos.

De acordo com Pedro Betancourt, diretor de relações externas e governamentais da Great Wall, serão gerados 2.000 empregos na região até 2025. A empresa acredita que conseguirá produzir a capacidade máxima da fábrica – cerca de 100 mil veículos por ano – quando o mercado estiver normalizado. Serão modelos voltados para o mercado interno e também para exportação.

O objetivo é atingir 60% de conteúdo local ao longo dos próximos três anos.

Uma das plataformas adotadas no Brasil será de um utilitário esportivo com motor 1.5 turbo a gasolina conciliado a outro, elétrico, com potência que parte de 230 cv, mas pode superar os 400 cv, de acordo com a calibração.

O sistema híbrido será plug-in, sendo possível recarregar o carro na tomada e rodar sem queimar combustível no uso urbano.

Os carros híbridos da Great Wall serão vendidos sob três marcas: Tank, Haval e Poer. há 10 modelos em desenvolvimento para o Brasil, sempre com estilo fora de estrada.

O primeiro lançamento será de um veículo importado da China, que chegará às lojas no fim deste ano. Já o primeiro automóvel nacional da empresa está previsto para o segundo semestre de 2023.

Haverá também a marca premium Ora, focada em veículos 100% elétricos. Essa divisão da Great Wall ganhou fama em 2021 ao apresentar uma cópia modernizada do Volkswagen Fusca, chamada Punk Cat. Esse modelo já está registrado no Brasil, mas sem data de lançamento.

A empresa diz que haverá tecnologias como reconhecimento facial e uso de inteligência artificial com conexão 5G. Todos os modelos serão equipados com sistemas semiautônomos de auxílio à direção, como leitores de faixa e frenagem automática em caso de colisão iminente.

A montagem da rede de revendedores segue em negociação. Oswaldo Ramos, diretor comercial da Great Wall no Brasil, disse que há reuniões com grupos concessionários de todo o Brasil, e, além da comercialização tradicional, haverá a opção do aluguel de longo prazo.

A montadora chinesa foi criada em 1984 e hoje tem 19 fábricas no mundo, já contando com a nova unidade brasileira. Seus carros são vendidos em cerca de 60 países. É a sétima marca mais valiosa do setor automotivo, com valor estimado em US$ 76,7 bilhões (R$ 416,6 bi).

Koma Li, chefe de operações da Great Wall Motors no Brasil, disse que a empresa, que também produz baterias, está pronta para a eletrificação da frota. A empresa espera vender quatro milhões de carros no mundo em 2025, e 80% desses serão híbridos ou 100% elétricos. O Brasil está incluído na conta.

“O mercado brasileiro não é apenas o líder da América Latina, mas é também um dos dez maiores do mundo”, disse o executivo ao justificar o porquê de investir no país.

Antes de se tornar uma fábrica de automóveis de luxo, o terreno em Iracemápolis era um canavial. A Mercedes-Benz assumiu as operações e criou também um campo provas. A montadora alemã encerrou as atividades fabris na região em dezembro de 2020. A fábrica empregava 370 funcionários e jamais chegou perto de sua capacidade máxima de produção, estimada em 20 mil unidades por ano.

História de marcas chinesas no Brasil tem altos e baixos A história dos carros de origem chinesa no Brasil é repleta de períodos de bonança entremeados por promessas não concretizadas. O primeiro episódio é a apresentação dos utilitários da Chana em 2006, no Salão do Automóvel de São Paulo.

A escolha do nome visava gerar piadas e chamar a atenção, o que de fato ocorreu. Em 2011, o grupo importador adotou o nome original: Changan.

Uma das marcas de maior expressão na década passada foi a JAC Motors, que teve 23 mil carros emplacados em 2011. Contudo a empresa, que é representada no Brasil pelo grupo SHC, foi uma das mais afetadas pelas restrições impostas aos importados em setembro daquele ano.

Foi estabelecido um sistema de cotas para veículos importados, com sobretaxa de 30 pontos percentuais sobre o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) a incidir em unidades que extrapolassem o teto.

A política protecionista adotada durante o governo Dilma Rousseff (PT) resultou no programa de estímulo Inovar-Auto -que, entre outros resultados, levou a Mercedes-Benz a investir na fábrica que hoje pertence à Great Wall.

O plano, que vigorou de 2012 a 2017, concedia incentivos fiscais a empresas que investissem no avanço tecnológico e na produção local de veículos

Em outubro de 2011, o empresário Sergio Habib, que comanda o grupo SHC, anunciou a construção de uma fábrica na Bahia, com investimento de R$ 900 milhões. As operações deveriam ter início em 2015, mas a crise econômica e dificuldades para captação de recursos puseram fim no empreendimento.

Um novo anúncio foi feito em dezembro de 2017: a nova linha de produção seria na cidade de Itumbiara (GO), no mesmo local onde o grupo HPE chegou a montar unidades do utilitário compacto Suzuki Jimny, entre 2013 e 2015.

Novamente o negócio não decolou, e o grupo SHC pediu recuperação judicial. A marca JAC se manteve no mercado brasileiro como importadora e hoje aposta em veículos elétricos. Seus produtos incluem carros de passeio e caminhões recarregáveis na tomada. O lançamento mais recente é o sedã e-J7, que custa R$ 259,9 mil.

A chinesa de maior sucesso no país é a Caoa Chery, que tem seus carros produzidos em Jacareí (interior de São Paulo) e Anápolis (GO). A montadora passou por dificuldades em sua primeira fase no Brasil, entre 2014 e 2017, mas bons resultados começaram a aparecer quando o médico e empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade (1943-2021) assumiu 50% das operações e renovou a linha de produtos. A marca teve 39,7 mil unidades emplacadas em 2021, terminando o ano na décima posição.

A boa aceitação dos modelos Chery encoraja montadoras chinesas a apostarem no Brasil, apesar das incertezas políticas e econômicas. Além da Great Wall, a BYD também quer conquistar o público brasileiro.

Após investir na produção local de ônibus elétricos -com fábrica em Campinas (interior de São Paulo)-, a empresa começa a importar sedãs e utilitários de luxo igualmente movidos a eletricidade. Um modelo híbrido de porte médio também está nos planos, com estreia prevista ainda em 2022.

Com informações Folha Press