Marca autoral de mulheres de comunidade quilombola será apresentada na Amarê Fashion – Semana da Moda Goiana

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Maria Helena Serafim, mais conhecida como Tuia, a fundadora da marca Tuya Kalunga | Foto: divulgação

 Com o olhar de desenvolvimento territorial e objetivo de geração de renda através do afroempreendedorismo, a Amarê Fashion – Semana de Moda Goiana dará destaque a marca Tuya Kalunga, formada pela Associação de Mulheres da comunidade quilombola Kalunga de Tinguizal, em Monte Alegre de Goiás, durante o evento nos dias 29, 30 e 31 de agosto, 01 e 02 de setembro, no Centro Cultural Oscar Niemeyer. A ação faz parte do programa voltado para causas sociais e sustentabilidade: o ‘Amar É’.

Localizada a mais de 500 km da capital de Goiás, a comunidade Kalunga do Tinguizal viu em seu dia a dia o potencial de ser profundamente transformada pela moda. “A Tuya se tornou não apenas uma marca de roupa da comunidade Kalunga, mas um movimento cultural porque tudo que se faz hoje na comunidade passa pelas tuyas”, afirma Maria Helena Serafim, mais conhecida como Tuia, a fundadora da marca. Mulheres e meninas kalungas que ajudam na confecção de roupas e peças formam a Associação de Mulheres e são carinhosamente chamadas de “tuyas” pela comunidade. 

Tecendo esperança 

Para Tuia, a marca de roupa autoral não só foi um meio de conseguir renda para as costureiras, mas também uma forma de assegurar a preservação dos kalungas. “A comunidade voltou a ter vida! Uma comunidade em que todo mundo só queria ir embora, hoje voltou a ter vida e a ter projetos que nos fortalecem e incentivam a permanecer aqui”, diz a fundadora da marca, que iniciou seu projeto em 2017. 

Para ajudar no empreendimento e assegurar que seja rentável para o quilombo, em junho, o Sebrae Goiás realizou o curso Aprender e Empreender Social com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento profissional e capacitar as integrantes da Associação de Mulheres. Outras capacitações e consultorias do SEBRAE estão previstas ainda para que a marca se desenvolva e supere desafios do mercado.

São cerca de 40 famílias vivendo na comunidade do Tinguizal, sendo que 32 mulheres estão participando das atividades de corte e costura na associação. Segundo Tuia, elas produzem roupas, acessórios e tapetes, mas a produção é mínima devido à falta de matéria-prima, necessitando ainda criar um processo mais eficiente e profissionalizado. As vendas ainda são feitas pontualmente para pessoas interessadas nesses tipos de produtos tradicionais.

Raízes

Após se formar em Educação no Campo pela Universidade de Brasília (UnB), Tuia não se sentia mais estimulada em permanecer no quilombo. Segundo ela, apesar de ter se tornado uma liderança na comunidade, não se sentia pertencente ao lugar e se perguntava se o certo seria buscar outras oportunidades na cidade. Foi durante esse período de conflito interno que Maria Helena Serafim se conectou com suas raízes e percebeu que o saber ancestral da sua comunidade é um bom motivo para ficar. 

“Eu lembrei de uma vez que a minha mãe fez uma saia de couropim para mim e eu amava aquela saia. Ela juntava os pedaços de pano e trocava farinha para conseguir mais tecido para fazer nossas roupas. Então, tive a vontade de voltar para casa e aprender com ela e minha avó sobre a confecção de roupa”, relembra. Dessa curiosidade surgiu uma pesquisa acadêmica e, em 2017, Maria Helena apresentou 30 peças de roupas, confeccionadas com a tradição kalunga, durante o encontro de pesquisadores quilombolas, organizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). O sucesso do desfile na Universidade marcou a criação da marca Tuya Kalunga. 

Amar É

Nesta edição, além de desfiles, exposições, rodadas de negócios, palestras, talks, atrações artísticas, a Semana de Moda Goiana terá um programa voltado para causas sociais e sustentabilidade: o Amar é. O curso realizado pelo Sebrae Goiás com as tuyas e a apresentação da marca Tuya Kalunga durante a Semana de Moda Goiana fazem parte desse objetivo social da Amarê. 

Para Elaine Moura, gestora estadual do Projeto Território Empreender Nordeste Goiano no Sebrae Goiás, a ideia é apoiar a Associação de Mulheres no desenvolvimento de habilidades empreendedoras.

“Buscamos promover o avanço econômico do território, envolvendo lideranças e comunidades locais na construção conjunta de uma agenda de desenvolvimento para a região, visando transformar o território no melhor lugar para se viver e empreender. Na comunidade Kalunga de Monte Alegre temos a Tuia Kalunga como liderança forte. E uma das iniciativas é levá-las para a segunda edição da Amarê Fashion a fim de que elas conheçam o universo da moda a fundo”, explica

Sobre a Amarê Fashion – Semana da Moda Goiana, evento realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás) junto com os parceiros do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Governo de Goiás. Evento tem como objetivo fortalecer os negócios da moda goiana, consolidando o Estado de Goiás como importante polo criador de moda no Brasil. Carregado de referências, ao mesmo tempo regionais e cosmopolitas, a AMARÊ FASHION se prepara para a sua 2ª edição.

Amarê Fashion 2022 em números: R$ 29,3 milhões estimados em negócios; 454 oportunidades de negócios (reuniões); 85 empresas participantes; comitivas da Austrália, Itália e Estados Unidos; presença de três tradings com atuação internacional, e de empresários dos estados brasileiros Alagoas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Distrito Federal.