segunda-feira, dezembro, 2024

Inovação não é opção. É obrigação

*Por Marcos Gouvêa de Souza

Faz tempo que o foco na inovação deixou de ser opção para se tornar obrigação. É fazer, ou fazer. Ou aceitar ser atropelado pela realidade.

Se prestarmos um mínimo de atenção à velocidade, extensão e profundidade dos elementos transformadores da realidade de mercado, veremos que a ninguém mais, especialmente os líderes de negócios, é dado o direito de se posicionar como seguidor.

Se no passado esse seguidor tinha a opção de escolher caminhos entre os precursores e se reposicionar, hoje o seguidor é considerado uma empresa ou negócio de segunda classe e todos os méritos se concentram nos que inovam e criam a nova realidade.

Considerem em suas respectivas áreas de atuação empresas como Amazon, Google, iFood, Facebook, Zara, Whole Foods, Alibaba, Tencent, Didi, Waze e muitas outras mais.

Elas criaram paradigmas nos negócios e todas as demais são seguidoras em busca de algum brilho num ambiente onde todo o foco está nas que criam os novos paradigmas e se tornam a nova referência.

É verdade que os “first movers”, ou os desbravadores, ao criarem as novas propostas têm o ônus dos investimentos financeiros, de tempo e atenção. E que, em tese, os que seguem podem ter o benefício de aprender com os acertos e erros dos desbravadores e podem ainda escolher opções que melhor se ajustem à sua realidade.

Os desbravadores, quando acertam a dose, têm todos os méritos de se apropriarem do território conquistado e por algum tempo reinam sozinhos até que os seguidores criem opções, se houver tempo para tentar uma reação.

Os verdadeiramente inovadores são usualmente contemplados com os maiores “valuations” e se tornam parâmetros de mercado.

Nas mais diversas áreas, dos serviços financeiros – vide a realidade do Nubank – ao varejo digital, o espaço entre os precursores e seguidores tornou-se muito maior e o mercado premia os inovadores com aporte de recursos e valorização que exponenciam em curto espaço de tempo seu protagonismo.

Mas mesmo que não estejamos considerando os grandes movimentos globais, disruptivos em sua essência, também no âmbito mais “paroquial” é preciso estar atento de forma permanente à atitude de inovação. Assim, é possível manter sua equipe, a cultura empresarial e o próprio negócio conectados com o ambiente externo em busca das oportunidades que podem ser geradas e também considerando as ameaças que podem vir das mudanças que estão ocorrendo a cada momento.

E sempre sem esquecer o efeito Kodak, aquele em que a sobrevalorização do diferencial do momento ou seu próprio modelo de negócio impede de enxergar as oportunidades ou ameaças que podem vir do mercado.

O efeito Kodak, como sabem, é aquele nominado desta forma pois a empresa, líder absoluta no negócio de fotografias convencionais – e apesar de ter criado o modelo digital -, demorou para “disruptar” seu próprio negócio pelo apego ao lucrativo modelo tradicional e foi “atropelada” pelo modelo digital dos novos entrantes.

Inovação e resultados

Mas inovação precisa estar atrelada a resultados. Como sempre é lembrado, inovação sem resultados é arte. Arte e criatividade andam sempre juntas e nesse caso é bom lembrar o conceito de Theodore Levitt de que criatividade é pensar coisas novas e inovação é fazer coisas novas.

Ainda que arte seja um elemento importante na sociedade, o que move o mundo é a inovação e os resultados geradores de emprego, renda, evolução e desenvolvimento das atividades, inclusive para estimular e valorizar a arte.

No ambiente empresarial, a inovação deve ser direcionada para a busca de resultados de curto, médio ou longo prazo. E essa visão deve sempre estar presente.

É verdade que o ambiente digital e a tecnologia têm criado distorções nesse enunciado, quase simplista.

Demorou muito tempo para a Amazon passar a dar resultados avaliados de forma tradicional. Idem com incríveis inovações de modelos como Uber, Waze e outros mais. E sua exponencial valorização, como é o caso mais recente do Nubank, ocorreu antes mesmo que pudessem ser lucrativos, no conceito mais tradicional.

Essa constatação é sempre lembrada quando a velocidade da inovação supera a velocidade da geração de resultados.

Não faltam exemplos no ambiente de negócios, especialmente no cenário atual de muito capital no cenário global em busca de oportunidades de investimento. O que pode e tem gerado distorções.

E igualmente é sempre importante considerar as diferenças entre disrupção e inovação. A seu modo, Bradesco, Itaú e Santander são inovadores em muitos e relevantes aspectos. Disrupção é aquela provocada no negócio de forma mais abrangente, como a que foi precipitada pelas fintechs, entre elas o recente episódio retratado no IPO do Nubank.

Tanto quanto Península, Oberoi, Rosewood e outras redes globais de hotéis são permanentemente inovadoras em suas operações, mas Airbnb revolucionou, “disruptou”, para usar o verbo em moda, o modelo de negócio de hospedagem, com forte impacto no mundo da hotelaria.

O que não deve ser ignorado é que a velocidade das mudanças de cenários impõe um exercício contínuo e permanente em busca da inovação para geração de resultados, de curto, médio ou longo prazo, e que isso deve ser refletido numa cultura e atitude permanentes nos negócios num exercício constante de olharmos e pensarmos nossas atividades de dentro para fora e, também, principalmente, de fora para dentro.

*Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvea Ecosystem e Publisher da Plataforma Mercado & Consumo.

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