Dia das Meninas na Tecnologia da Informação: conheça os maiores desafios enfrentados pelas mulheres na profissão

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Imagem ilustrativa | Divulgação

Era a década de 1960 e Stephanie Shirley — considerada a primeira programadora de computadores independente, do mundo — passava pelas situações mais inusitadas (e constrangedoras), como ter que usar o nome “Steve” para que as pessoas a levassem a sério e ela conseguisse conduzir seu negócio pioneiro no setor de softwares. Hoje, em pleno 2024, sabe-se que o universo da computação continua sendo um território predominantemente masculino.

Dados divulgados em março, pelo IBGE, através da pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, que desde 2018 traz informações para análise das condições de vida das mulheres no país, apontaram que dentre todas as áreas de formação investigadas pela pesquisa, a que registra menor presença feminina é a de ciência da computação e TI (Tecnologia da Informação). O número de mulheres concluintes destes cursos não é só baixo, como caiu: passou de 17,5% em 2012, para 15% em 2022.

Embora as mulheres tenham aumentado sua representação entre os concluintes do curso de TI e computação entre 2012 e 2013, com percentuais de 17,4% e 16,4%, o estudo, que tem como base o Censo da Educação Superior de 2022, registrou que essa participação diminuiu ao longo da década. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) veio corroborar tal fato: evidenciou que as mulheres são apenas 20% da força de trabalho no mercado de TI no Brasil.

Para a Dra. Luciana Souza, sócia-fundadora da Sinerji — empresa de transformação digital e soluções baseadas em softwares — embora o tema venha recebendo cada vez mais destaque, com campanhas como o Dia das Meninas na Tecnologia da Informação, que é celebrado nesta quinta-feira (25), ainda há o desafio da sociedade promover mudanças reais e profundas, trazendo à tona mais respeito, inclusão e capacitação.

“É como se naquele ambiente, por ser um campo das Exatas, não coubesse a presença feminina. Às vezes, a mulher é desencorajada desde cedo, até mesmo por parentes ou na escola. Piadas machistas envolvendo o assunto, ainda são atitudes que as mulheres veem com frequência no dia a dia, por exemplo”, afirmou.

Por outro lado, como acrescentou a gestora administrativa da Sinerji, Bárbara Paz, cargos de chefia em tecnologia, ocupados por mulheres, continuam sendo raros. “Não é novidade, isso já acontece no mundo como um todo, mas nessa esfera do mercado profissional é ainda mais difícil a mulher estar em um posto de liderança e isso vai desencorajando também as outras a optarem por essa carreira, pois são escassas as referências nesse sentido”, explicou.

Agravando o contexto, a questão da importância da família para a mulher, muitas vezes é vista como um inconveniente. “O pensamento de que a mulher ou é boa mãe, ou uma excelente profissional, é bastante encontrado no mercado de trabalho. Quando se fala em TI, que costuma exigir muita dedicação, essa ideia ganha mais força, como se essas duas missões, a de mãe e executiva na área, fossem contraditórias, excludentes”, assinalou Luciana.

Bárbara concordou com ela, acrescentando que tanto para o homem como para a mulher, é difícil equilibrar a família e o trabalho, devido às várias demandas da contemporaneidade. “Mas sabemos que quando se organiza o tempo, é totalmente possível”, disse.

Para Luciana, independente da época, o espaço das mulheres sempre foi conquistado, graças à tenacidade delas e a um esforço contínuo frente aos obstáculos. No entanto, é evidente que essa conquista não foi plenamente alcançada, sendo crucial que no presente sejam efetivadas ações mais assertivas, de modo a aumentar a participação das mulheres na tecnologia. “É preciso que as organizações desenvolvam estratégias para isso, ampliando a oportunidade de inclusão delas, com projetos direcionados a esse contexto. A representatividade de gênero deve ser uma pauta prioritária, na prática “, enfatizou.

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Saiba mais sobre mulheres que fizeram história na área: Stephanie Shirley, Ada Lovelace e Grace Hooper

Em tenra idade, Stephanie Shirley começou a se destacar pelo seu rendimento escolar, notadamente em matemática. Ela chegou a ser transferida para uma escola para meninos, que oferecia aulas mais avançadas nessa disciplina. Nas décadas de 1950 e 1960, Shirley lutou contra o sexismo, criou postos de trabalho exclusivamente para mulheres e adotou ideias revolucionárias, como o trabalho remoto. Especificamente em 1962, abriu sua própria empresa de computação, a “Freelance Programmers”. Ela é vista como a primeira magnata da seara tecnológica. Atualmente, tem 91 anos e acumula uma fortuna de quase £150 milhões (cerca de R$ 940 milhões).

Augusta Ada Byron King, a Ada Lovelace, nasceu em 1815, em Londres, na Inglaterra. Matemática e escritora, ela é responsável por escrever aquele que veio a ser conhecido como o primeiro algoritmo de computador da história. Filha de Lord Byron, um dos poetas mais famosos do Romantismo, ela costumava dizer que a metafísica era tão importante quanto a matemática ­— já que ambas são ferramentas fundamentais para investigar “mundos invisíveis ao nosso redor”. Diversos dramas familiares fizeram parte da vida de Ada: após seu nascimento, seus pais se separaram; Byron morreria apenas meses depois durante a Guerra de Independência Grega; Ada teria sido também abandonada pela mãe, que a deixou aos cuidados da avó. Todo esse torvelinho emocional, acreditam seus biógrafos, fez com ela se aplicasse devotadamente à ciência e a criatividade.

Data de 1906 o nascimento de Grace Hooper. Irmã mais velha dentre três irmãos, dizem os historiadores que sua genialidade se devia a uma curiosidade incansável, que durou uma vida inteira. A existência de Grace tem a marca do pioneirismo: ela foi uma das primeiras mulheres a se tornar PhD em Matemática, trabalhando posteriormente na Marinha dos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial; atribui-se a Grace a responsabilidade por, naquele contexto, programar o Mark I, o primeiro computador eletromecânico do mundo; trabalhou, ainda, no UNIVAC, o primeiro computador eletrônico comercial. Além disso, um de seus grandes feitos é a criação de um aparelho que ajudou a automatizar a programação das máquinas — o primeiro compilador para computadores.

A ONU e as meninas na tecnologia

O Dia das Meninas nas Tecnologias de Informação e Comunicação foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o propósito de realçar o valor das mulheres no setor. Ele é comemorado anualmente, sempre na quarta quinta-feira do mês de abril. Para a entidade, a efeméride representa um chamamento para que governos, indústria, empresas e instituições acadêmicas elaborem iniciativas apoiando e encorajando as mulheres que desejam seguir a carreira profissional em TIC.

Em 2023, aliás, a ONU enfatizou o tema no Dia Internacional da Mulher, que aconteceu abordando o tópico “Por um mundo digital inclusivo: inovação e tecnologia para a igualdade de gênero”. Naquele ano, o secretário-geral António Guterres enfatizou que a exclusão das mulheres da esfera digital resultou na perda de US$ 1 trilhão ao Produto Interno Bruto (PIB) dos países de baixa e média rendas na última década, e que as perdas podem chegar a US$ 1,3 trilhões até 2025.

Na oportunidade, o líder das Nações Unidas também lembrou que as mulheres representam menos de um terço da força de trabalho na ciência, tecnologia, engenharia e matemática, o que apenas “digitaliza o sexismo e perpetua desigualdades”.