Muito se fala das estratégias de internacionalização das startups brasileiras. Não é difícil encontrar notícias sobre planos de expansão global de companhias de todos os segmentos. Não é novidade para ninguém que o Brasil exporta inovação, mas, o mercado começa a presenciar o movimento contrário, que coloca o país como mercado estratégico para projetos de expansão de empresas de diversos setores.
Conheça os motivos pelos quais empresas de diversos segmentos escolheram o Brasil como mercado para expansão seus negócios
Desbancarizados em busca de inclusão financeira
A necessidade de fornecer serviços financeiros para consumidores desbancarizados e pequenas empresas é uma meta declarada para quase todos os países do mundo, mas a oportunidade de atingir essa meta com sucesso raramente é tão acessível como no Brasil.
Para Saul Fine, CEO da fintech israelense Innovative Assessments, o país tem, como alguns poderiam dizer, a ‘tempestade perfeita’ para promover a inclusão financeira. O Brasil conta com 34 milhões de cidadãos sem conta bancária (um a cada cinco adultos), ao mesmo tempo em que dispõe da economia mais desenvolvida da América Latina, com diversos bancos e serviços digitais, além de iniciativas inovadoras como o Open Banking.
A israelense, que oferece questionário psicométrico capaz de incluir negativados e desbancarizados ao sistema de crédito, atua em conjunto com bancos e outras instituições financeiras em busca de maiores taxas de aprovação de crédito e já auxiliou mais de 1,5 milhão de solicitantes ao redor do mundo. No Brasil, a Innovative Assessments tem parceria com mais de 15 bancos e fintechs, contribuindo para a inclusão financeira no país.
Crédito para as PME’s
Para a norte-americana Tribal, plataforma de pagamento e financiamento B2B para mercados emergentes, que acaba de desembarcar no país, o Brasil é visto como um mercado estratégico. “Assim como nos demais países latino-americanos, vemos no mercado brasileiro as dificuldades de acesso ao crédito corporativo, até mesmo de gerar pagamentos globais. As empresas precisam desse produto, mas encontram muitas burocracias para aprovação. Por isso, estamos aqui para oferecer soluções que ajudem a resolver esses problemas e também servir de mola propulsora para o crescimento das empresas de forma segura, digital e rápida”, enfatiza Sonia Michaca, Gerente Regional da Tribal para a América Latina.
Justiça financeira para os brasileiros
Aplicar o grande propósito da empresa, que é a Justiça Financeira, foi um dos grandes fatores que levaram Brad Liebmann, CEO e fundador do alt.bank, fintech brasileira focada em levar justiça financeira por meio de práticas justas, a escolher o Brasil para o lançamento da plataforma, em 2018. Para o americano, “infelizmente, os maiores bancos do Brasil estão entre os mais predatórios do mundo – dando ao manifesto do alt.bank mais importância do que teria em outros países”, explica o CEO.
Além disso, a penetração tecnológica e de smartphones por grande parte da população também foi um importante fator de escolha, assim como o tamanho do mercado bancário brasileiro, que representa mais de 60% da participação total da América Latina. LIebmann aponta como outro fator positivo e determinante o Brasil ter um dos órgãos reguladores – o Banco Central – mais progressistas e inovadores do mundo.
Em pouco mais de 3 anos de anos de vida, o aplicativo já conta com aproximadamente 1 milhão de downloads e oferece alguns produtos, como cartão de débito com bandeira Visa, conhecido como “amarelinho”, conta corrente com 2% de cashback em todas as compras que fizer nos primeiros 30 dias de uso e descontos em parceiros, como Americanas, Carrefour, Casas Bahia, Droga Raia e Drogasil.
Pensando em seu público, que são os chamados “poupadores”, que são aqueles que se preocupam em ter alguma economia, mas não tem acesso completo ao sistema tradicional, o alt.bank está com uma lista de espera em aberto para o lançamento de seu cartão de crédito pós-pago. Entre todos os benefícios já atrelados ao cartão, dois deles são grandes diferenciais, que são: função “construtor de crédito”, que é uma maneira de o cliente criar um histórico de crédito mesmo que seu CPF esteja com restrições ou seu score de crédito seja baixo, e o “limite dinâmico de crédito”, que trará oscilação periódica de limites do cartão de acordo com o comportamento de cada cliente.
“Criamos um cartão de crédito único, com foco nas pessoas que já possuem algum planejamento financeiro e que dá aos nossos clientes o controle de seus limites de crédito de uma forma planejada, além de oferecer vantagens significativas em relação aos cartões semelhantes aos de concorrentes”, explicou o fundador do alt.bank.
Democratização tecnológica no setor da construção
Para a colombiana Tul, que acaba de desembarcar no Brasil com um aporte de US$181 milhões, entrar no mercado brasileiro é oportunidade de alavancar ainda mais os negócios. Atualmente, o setor de construção emprega direta e indiretamente mais de 2 milhões de pessoas no Brasil. Por isso, a empresa apostou no país ao perceber o potencial de mercado encontrado aqui.
“A missão da Tul é digitalizar pequenos e médios empreendedores que encontram-se em regiões mais afastadas, oferecendo ferramentas próprias para que eles possam alavancar suas vendas, melhorando sua gestão de estoque no dia a dia”, comenta Bruno Raposo, Country Manager da Tul.
A Tul chega ao Brasil com uma oportunidade significativa para crescimento contínuo, unindo tecnologia, digitalização e soluções em meios de pagamento. A ideia é fazer do Brasil a maior operação da empresa até o momento, chegando ao nível de unicórnio nos próximos meses.
Seguro e crédito imobiliário
Para o grupo chileno AVLA, que chegou ao país no final de 2021 com um aporte de R$100 milhões, ingressar no mercado brasileiro foi a oportunidade perfeita para expandir a alavancar os negócios que já são requisitados no Chile, Peru e México.
“Nossa chegada ao Brasil representa mais um passo adiante na construção de nosso propósito: promover o crescimento e o desenvolvimento na América Latina. Aterrissamos com o compromisso de entregar soluções financeiras às mais de 14 milhões de pequenas e médias empresas do Brasil, a fim de colaborar com o desenvolvimento do país”, afirma Ignacio Alamos, CEO global da AVLA.
O grupo, que possui duas empresas (AVLA e Creditú), chega ao país oferecendo o serviço de seguro empresarial com produtos inovadores que o mercado brasileiro desconhece, como a Garantia de Recebíveis Imobiliários e crédito imobiliário para trabalhadores informais e autônomos, este último oferecido pela Fintech Creditú.
Edtech indiana e o ensino de programação online para crianças
Desde o final de 2019 a BYJUS’ Future School, maior edtech do mundo em educação interativa online, iniciou um processo de internacionalização. Como acreditamos muito em uma educação sem fronteiras, a atuação brasileira iniciou em meados de 2021. A partir da operação brasileira a companhia ensina crianças e adolescentes de todos os lugares do mundo que também tem a língua portuguesa como idioma.
“Sabíamos do imenso potencial do mercado brasileiro, mas ainda assim tivemos nossa expectativa superada. Isso demonstra o crescente entendimento de que é preciso formar crianças para o futuro e, para isso, é preciso desenvolver habilidades que vão além do currículo escolar tradicional”, comenta Fernando Prado, country manager da BYJU’S Future School.
Em menos de um ano de operação no Brasil, a BYJU’S registra números impressionantes: mais de 15 mil aulas agendadas por semana, mais de 7 mil alunos matriculados de 6 a 15 anos, espalhados por todo Brasil em aulas à distância e individuais ou em pequenos grupos, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada um. Neste curto período, a empresa estabeleceu parcerias com mais de 500 professoras.
Em âmbito global, a edtech indiana soma mais de 100 milhões de alunos, de diversas localidades.
“Acreditamos que a educação é a principal chave para um futuro de sucesso. Nosso objetivo é mostrar que a nossa metodologia e programas únicos são aliados para formar as crianças e jovens para os desafios do futuro. No Brasil, diferente da Índia, onde o estudo das linguagens de programação já é bastante avançado, estamos explorando um segmento relativamente novo. Ou seja, temos o desafio de demonstrar a relevância do conteúdo que oferecemos para o desenvolvimento das crianças. Mas temos percebido que estamos caminhando na direção certa”, finaliza Fernando.
Acelerando a transformação digital
A N5, empresa de software para Fintechs, Bancos e Seguradoras, busca acelerar a transformação digital de seus clientes, obtendo resultados rápidos, tangíveis e sob medida. Seus fundadores, que vieram principalmente do setor financeiro, desenvolveram uma plataforma customizável e única projetada para o Open Finance – incluindo CRM, Omnichannel e motores de decisão – na qual é possível a total digitalização de processos, independente do ponto de partida tecnológico, permitindo que bancos e seguradoras apresentem uma proposta de valor melhor e mais eficiente para seus clientes.
Desde sua fundação, em 2017, nos Estados Unidos, quase 30% dos diretores da companhia são brasileiros ou trabalham no Brasil. Mas foi em 2020 que a N5 iniciou oficialmente suas operações comerciais no País. Julián Colombo, CEO da N5, conta que o Brasil tem sido um dos mercados mais importantes para a empresa em termos estratégicos.
“O Brasil é um dos mercados mais dinâmicos do mundo, com inovação de nível mundial, reguladores modernos e enorme disponibilidade de talento. Diferente dos Estados Unidos, que apesar de serem a maior potência econômica do mundo, seu mercado financeiro é bem menos dinâmico, onde a evolução da bancarização, por exemplo, é muito menos elevada que aqui”.
A empresa, que nunca precisou de investimento e foi inteiramente financiada por clientes, dispostos a adiantar dinheiro em troca de ser os primeiros a obter a plataforma, já está presente em 13 países. “Aqui no Brasil contamos com mais de 10 clientes locais, entre bancos, seguradoras de fintechs e meios de pagamento, e 25% do nosso faturamento anual já é gerado aqui”, finaliza Julian.